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por Isabel Fleck

Perfil Isabel Fleck é correspondente em Nova York

Perfil completo

A NY de García Márquez

Por nyposts
19/04/14 13:15

Uma Nova York que “apodrece”, mas, já simultaneamente, inicia seu “processo de renascimento”. Foi assim que Gabriel García Márquez descreveu o período em que viveu na cidade, no início de 1961, como correspondente da agência estatal cubana “Prensa Latina”.

“É como uma selva. Me fascinou”, disse ao escritor americano William Kennedy, anos depois da sua passagem por aqui.

Fascínio e tensão, na verdade, foram os sentimentos que marcaram García Márquez em sua breve temporada de cinco meses em Nova York.

Aos 33, ele chegou à cidade com a mulher, Mercedes, e o filho, Rodrigo –na época, com pouco mais de um ano—, dias depois de os EUA romperem relações com Cuba, em janeiro de 1961. A empreitada até então lhe instigava, mas depois acabou se mostrando um desafio que o jovem casal não estava disposto a enfrentar.

Isso porque o recém-inaugurado escritório da “Prensa Latina” em Nova York, localizado num antigo edifício do complexo do Rockefeller Center, no coração de Manhattan, havia se tornado o alvo preferencial dos anticastristas.

Naquela época, os refugiados cubanos em Miami já eram mais de 100 mil. Muitos deles iam parar em NY.

As ameaças por telefone eram constantes, e, aos insultos por telefone, Gabo e seus colegas já tinham uma resposta-padrão: “Diselo a tu madre, cabrón!”.

Segundo o biógrafo Gerald Martin, autor de “Gabriel García Márquez – Uma Vida”, os jornalistas da sucursal do “Prensa” sempre tinham “armas caseiras” à mão para se defender de um possível ataque.

“Não havia conhecido até então um lugar mais adequado para ser assassinado”, afirmou García Márquez, certa vez, sobre o local em que trabalhava. “Era um escritório sórdido e solitário, com uma sala de telex e uma sala de redação com uma única janela que dava para um pátio abismal, sempre triste e com cheiro de fuligem, de cujo fundo vinha a toda hora o barulho dos ratos disputando as sobras nas grandes latas de lixo.”

Certa vez, por volta da meia noite, ele recebeu um telefonema dizendo que “tinha chegado a sua hora”. Gabo avisou por telex: “Se a linha permanecer aberta depois da 1h, é porque me mataram”. A resposta do escritório de Havana foi: “Mandaremos flores”. A volta para casa naquele dia, pela Sexta Avenida, seria ainda mais tensa que nos outros dias.

Durante a curta temporada, Gabo morou com a mulher e o filho pequeno num hotel, o Webster (hoje o três estrelas The Midtown Executive Club), ao lado da Quinta Avenida. Até lá, o casal foi alvo de ameaças, fazendo com que Mercedes tivesse que deixar o local por um tempo para ficar na casa de uma amiga com Rodrigo. Nesta época, García Márquez acabou ficando mais tempo na redação, e não raras vezes passou a noite no sofá da sucursal.

Para ele, o “deadline” de sua temporada em Nova York era o enfrentamento militar entre EUA e Cuba, que acabou se dando em abril, na invasão da Baía dos Porcos. “Não houve na história militar de todos os tempos uma guerra mais anunciada”, diria depois. Durante o período mais intenso da crise, chegou a ir usar um telex público na Quinta Avenida, para “tentar driblar a CIA”.

Com muita insistência sobre o escritório de Havana, deixou Nova York em maio de 1961, rumo a Nova Orleans, onde receberia mais dinheiro para seguir em direção ao México. Com o bebê de 18 meses e a mulher, percorreu de carro Maryland, Virgínia, as duas Carolinas, Geórgia, Alabama e Mississippi.

A rota de “fuga” de Nova York, pelas cidades segregadas entre brancos e negros ao Sul, acabou se transformando num alento para a experiência americana de Gabo: colocou o escritor em contato direto com o mundo retratado por William Faulkner, um dos autores que mais o influenciou.

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David Letterman: contagem regressiva

Por nyposts
15/04/14 13:01

Mais uma contagem regressiva teve início na TV americana. Dois meses após o apresentador Jay Leno deixar seu programa, o “The Tonight Show”, David Letterman, 67, anunciou, há poucos dias, que se aposentará em 2015, gerando não só uma expectativa sobre seu sucessor no “Late Show” –agora já se sabe: será Stephen Colbert–, como uma corrida para ainda ver Letterman em ação.

Se você também ainda não foi vê-lo ao vivo e estará em Nova York nos próximos meses, vai aqui um conselho: tire uma tarde da sua temporada na cidade para cumprir o que tem tudo para ser um programa inesquecível dentro do seu roteiro de viagem. E de graça.

Eu nunca tinha ido a um programa de auditório até março deste ano. A ideia de ter que reagir aos comandos de aplausos e risadas a cada corte de câmera sempre tinha me afastado deles. Abri uma exceção para o Letterman –e, olha, o faria de novo.

Com mais tempo de TV americana do que eu de vida (só à frente de programas de entrevistas noturnos são 32 anos –o mais longevo dos EUA), ele consegue transformar até entrevistas com convidados inexpressivos num papo tão interessante, que poderia ser assistido por horas. É por isso que você não precisa se chatear se tiver que escolher o dia às cegas, sem saber quais serão os entrevistados.

Mas não vou mentir: você vai ter que esperar um bom tempo na fila (mesmo com ingresso), tendo que demonstrar empolgação ao comando dos funcionários do programa, e ainda será “obrigado” a aplaudir a cada cinco minutos.

O Letterman, porém, vai recompensá-lo de outras formas. Todos os dias, antes da gravação (que é à tarde), ele reserva uns dez minutos só para bater um papo com o público. E é uma simpatia: responde perguntas, faz outras –tudo sem (aparentemente) a menor pressa. Sem contar que tudo acontece no tradicional Ed Sullivan Theater, teatro que abrigou o primeiro programa com os Beatles na TV americana, em 1964 –portanto, será também uma visita histórica.

Para participar, é preciso se increver aqui, preenchendo um formulário e selecionando três opções de datas. É necessário colocar um número de telefone dos EUA. Uma semana antes (ou menos), você receberá um telefonema da equipe do programa para escolher a data. E precisará responder a uma pergunta simples sobre o programa (não se desespere, eles vão lhe dar dicas até você acertar a resposta).

Pronto. Se der muita sorte, poderá assistir ao vivo uma entrevista memorável como essa, com a Madonna, em 1994. Ela foi um dos pontos altos de toda a trajetória de Letterman –e também é constamente citada em relatos biográficos sobre a popstar.

Aí vai um trecho, com os famosos cortes sobre a fala de Madonna, que criou alvoroço ao usar 14 vezes a “F-word” na TV aberta americana.

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Footloose, 30 anos depois

Por nyposts
22/03/14 10:52

No início de fevereiro, participei de uma série de coletivas de imprensa com atores aqui em Nova York. A mais aguardada era a com o Kevin Bacon, hoje protagonista da série de suspense “The Following” –mas que, para mim, sempre será o Ren McCormack de “Footloose” (1984).

Foram 15 minutos de entrevista com perguntas sobre a série, seu personagem e a diferença entre trabalhar no cinema e na TV. Eu só queria uma pergunta, e era sobre “Footloose”.

Quando fui pegar meu gravador, que estava sobre a mesa dele, perguntei. Queria saber o que ele ainda leva do filme que o catapultou à fama.

Ele suspirou, olhou para mim e respondeu como num lamento: “Eu não me vejo mais naquele garoto”.

E seguiu: “Quando eu assisto ao meu teste para o filme nos extras do DVD [de Footloose], eu tenho que desligar e me olhar no espelho para ver se consigo ver aquele garoto. Mas eu não consigo ver mais a mesma pessoa. É menos sobre personagens, mas mais sobre o cara que eu era. É uma parte diferente da vida.”  (leia matéria publicada na Ilustrada aqui)

Em entrevistas anteriores, Bacon, 55, havia dito que quase não levou o papel na época, quando tinha 24 anos, porque Dawn Steel, executiva da Paramount, achou que ele não era suficientemente “fuckable” (desculpem o termo, mas foi isso mesmo). Ele também já disse odiar quando o tema de “Footloose” começa a tocar em casamentos e todos batem palmas, olhando em sua direção e esperando que ele dê início à coreografia.

Ontem à noite, em mais uma prova de que o apresentador Jimmy Fallon consegue fazer tudo o que ele quer com celebridades (ele já fazia isso no “Saturday Night Live”, agora o faz em “The Tonight Show”), ele conseguiu colocar Bacon para dançar de novo, em celebração aos 30 anos do filme. O resultado é muito bom e pode ser visto abaixo.

O ator, que mostra estar ainda em excelente forma, se revolta com uma regra “imaginária” anunciada por Fallon de que é proibido dançar em seu programa. Ele então saca uma fita cassete com a música “Never”, e sai recriando a cena clássica do galpão. Por último, ele entra no palco do programa –é claro— ao som de “Footloose”.

Na minha humilde opinião, mesmo com dublê (obviamente há um ali), a performance toda de Bacon aos 55 é ainda melhor que aos 24. Mas deixo os dois vídeos aqui. Compare você mesmo, e veja se aquele garoto ainda está ali.

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É mais barato morar no Brooklyn?

Por nyposts
17/03/14 10:30

Diante dos valores absurdos de aluguel cobrados em Nova York, um conselho que ouvi de vários amigos antes de chegar à cidade foi: “procure no Brooklyn”.

Só que a minha impressão nunca foi a de que, hoje, morar no Brooklyn (leia-se Williamsburg, a parte “cool” para se viver) sairia mais barato do que em alguns lugares de Manhattan.

Nos últimos dois meses, tenho visto reportagens que só comprovam minha percepção inicial. A mais recente delas, publicada no “New York Times” deste domingo, mostra que os jovens estão voltando a morar em Upper East Side, considerado um dos bairros mais abastados e onde têm casa Woody Allen, Martin Scorsese, Madonna e Michael Bloomberg.

O motivo? O preço. É óbvio que não estamos falando de apartamentos de quatro quartos ou casas de dois ou três andares, mas em estúdios ou apartamentos de um ou dois quartos.

De acordo com a pesquisa da empresa Miller Samuel, publicada no “NYT”, um estúdio em Upper East Side, dependendo da localização, custa entre US$ 2.000 e US$ 2.225 ao mês. Em Williamsburg, no Brooklyn, a média é de US$ 2.700.

No caso do apartamento de um quarto, o valor em Upper East varia entre US$ 2.600 e US$ 3.100. Em Williamsburg, a média é de US$ 3.300.

Fui atrás de outros relatórios. O da imobiliária MNS, que tem unidades equivalentes nos dois lugares, reforça a diferença: média de US$ 2.045 para um estúdio em Upper East, US$ 2.612 em Williamsburg.

A “gentrificação” não é exatamente uma novidade no Brooklyn –nem em East Village ou Lower East Side. Williamsburg, “hypado” nos últimos anos pela presença de uma vizinhança formada por novos artistas, atraiu uma massa jovem hipster que parece ainda entender o bairro como marginal. Só que o mercado imobiliário também se aproveitou do apelo “cool”.

A matéria do “NYT” destaca vários casos de jovens que tiveram que sair de lugares badalados para viver, pagando menos, num Upper East estigmatizado pelo glamour da Park Avenue e dos longos toldos na frente dos prédios, com porteiros uniformizados.

A opção, no entanto, os sacrifica por um lado: ficam mais longe dos bares, restaurantes e noitadas. A partir de então, têm que se deslocar até os amigos (ninguém quer passar a sexta à noite num pub em Upper East), e se acostumar com o clima mais “família” da vizinhança.

A recompensa é o dinheiro poupado no fim do mês e o Central Park como quintal.

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Michelle veste GAP

Por nyposts
11/03/14 23:43

Nesta terça-feira, Obama esteve em Nova York. Veio à cidade se reunir com doadores do Partido Democrata, que pagaram até US$ 32.400 para participar do evento com o presidente.

Antes do compromisso, no entanto, ele resolveu fazer uma “paradinha” para compras no centro de Manhattan. A loja escolhida? GAP.

Entrou, olhou, comparou cores e pediu opiniões da atendente. Escolheu um casaco esportivo azul-claro para Michelle e dois suéteres –rosa claro e coral—para as meninas, Sasha e Malia.

“Acho que elas vão ficar impressionadas com meu senso de estilo”, brincou.

Apesar de uma pausa para compras não ser nada tão surpreendente em Nova York, a de Obama não foi, em nenhum momento, espontânea.

Nem a escolha da loja segue exatamente uma preferência de Michelle, das garotas ou do próprio Obama.

O presidente entrou na GAP para promover sua bandeira do aumento do salário mínimo: de US$ 7,25 (R$ 17) por hora para US$ 10,10 (R$ 23,70). A empresa anunciou recentemente sua nova política de pagar, para funcionários iniciantes, um valor já acima do salário mínimo.

“Não é bom só para eles e suas famílias, é bom também para toda a economia. Queria parabenizar a GAP por fazer a coisa certa”, disse.

Só nesta semana, é a segunda vez que Obama escolhe uma “plataforma” nada usual para falar de seus programas e propostas. Ontem, ele também participou do programa do comediante Zach Galifianakis da série “Se beber não case” no site “Funny or Die” (“Engraçado ou morra”), para promover o Obamacare, seu programa de reforma da saúde. (leia aqui)

A conta do presidente na GAP deu US$ 155, e a vendedora ainda aproveitou a abertura para tentar lhe empurrar um cartão da loja.

“Eu trouxe um cartão”, desconversou Obama, como qualquer outro cliente escolado faria. “Na verdade, eu não levo sempre minha carteira comigo. Hoje trouxe especialmente para você”, completou, com seu charme habitual, que arrancou mais alguns suspiros.

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"No soup for you!"

Por nyposts
10/03/14 11:00

Impossível não ver o anúncio enorme (da altura de quatro andares) anunciando: “Soup for you! [sopa para você!]”, na esquina da rua 55 com a 8a avenida, em Manhattan.

O cartaz traz a foto do iraniano Ali “Al” Yeganeh ou o “Original Soup Man”, que é o criador da rede homônima (à alcunha) e serviu de inspiração para o personagem “The Soup Nazi”, em um dos mais famosos episódios de Seinfeld, exibido em 1995.

"The Original Soup Man", na esquina da rua 55 com a 8a avenida (Isabel Fleck/Folhapress)

“The Original Soup Man”, na esquina da rua 55 com a 8a avenida (Isabel Fleck/Folhapress)

Nele, Jerry Seinfeld, George (Jason Alexander) e Elaine (Julia Louis-Dreyfus) se arriscam diante do tirano chef, vivido pelo ator Larry Thomas, para conseguir comprar “a melhor sopa da cidade”.

Obviamente, encontram problemas com as regras do lugar: escolha logo a sopa, esteja com o dinheiro em mãos e vá para a EXTREMA esquerda após fazer o pedido. Sem perguntas, sem reclamações. Tudo para manter “a fila andando”. (veja trechos do episódio abaixo)

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Cartazes em 12 idiomas exibem as regras do “soup man” (Isabel Fleck/Folhapress)

 

O mau humor do “soup man” faz parte do ritual. Não seguir as regras pode resultar na célebre frase: “No soup for you!”

Na pequena loja da “The Original Soup Man” –aberta em 1984, fechada em 2004 e reaberta em 2010—, as regras, em 12 idiomas (não em português), ainda estão lá, afixadas sobre o balcão virado para a rua.

Outra placa anuncia, como no seriado: “nos reservamos o direito de recusar o atendimento a qualquer pessoa”.

Não é possível mais ser servido por Al Yeganeh. Ele, aliás, virou figura quase mítica após o episódio e não foi visto nem na reinauguração da loja, há quatro anos. Dizem que ele vive nas redondezas, mas parece ter optado por evitar a imprensa e os curiosos desde que se viu envolvido numa disputa judicial com antigos sócios.

Em seu lugar, estão atendentes que não são exatamente simpáticos, mas estão longe de intimidar os clientes como Al. Também não há mais filas gigantescas.

Na dúvida, não perdi muito tempo escolhendo a sopa e pedi com o dinheiro já em mãos. Cometi, no entanto, o erro de não me dirigir diretamente para a esquerda da fila e, pior, de perguntar como poderia entrar em contato com o “soup man”.
“Quem?”, perguntou a atendente, já fechando a cara e fingindo não saber de quem se tratava.

“O Al Yeganeh”, repeti.

“Ele não trabalha aqui. Se quiser, volta na terça para falar com o meu chefe. Próximo!”

Depois, dando uma olhada no site, descobri que eles também têm regras para jornalistas. Algumas delas: “sem perguntas pessoais”, “sem perguntas complementares”, “só algumas perguntas serão respondidas por e-mail”, “a duração e o formato da entrevista serão definidos pelo Al”.

 

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Sopa minestrone na caneca da “The Original Soup Man” (Isabel Fleck/Folhapress)

 

Bem, ao menos não me negaram a sopa. Saí de lá com um pote de minestrone (US$ 7) e uma caneca “No soup for you”, símbolo máximo de como o iraniano soube aproveitar a fama conquistada após o episódio. Há camisetas também, e uma foto do George Costanza na parede.

Reza a lenda que o “soup man” teria banido o Jerry Seinfeld da loja alguns anos atrás. Diante do exposto, só dá para acreditar na “punição” como mais uma estratégia de marketing.

Publicidade à parte, a sopa é mesmo muito boa.

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Reais por bitcoins

Por nyposts
05/03/14 10:09

Pouco antes de sair de casa para participar do “pregão” de moeda virtual no Bitcoin Center, em Wall Street, na última semana, cacei uma nota de R$ 50 e coloquei na bolsa.

A ideia era tentar comprar bitcoins com real, já que a descrição do encontro (leia aqui a matéria) na Bolsa deixava bem claro que ali é possível negociar a moeda virtual com qualquer outra moeda –é só achar um interessado.

A princípio, a nota de R$ 50 causou estranhamento. “Mas você não tem dólar?”, me perguntou um dos corretores.

No Bitcoin Center, pessoas trocam bitcoin por moeda "real" (Isabel Fleck/Folhapress)

No Bitcoin Center, pessoas trocam bitcoin por moeda “real” (Isabel Fleck/Folhapress)

Como uma iniciante no mercado de bitcoins, tive que, antes de fazer a oferta, abrir uma conta em uma Bolsa virtual, com meu celular. O primeiro obstáculo foi o fato de ser um iPhone –a Apple eliminou de sua loja todos os aplicativos de “carteira virtual”.

Com isso, o “endereço” da minha carteira –que me identificam como remetente e destinatária para pagamentos— era apenas uma série quase infinita de números e letras, e não um QR code, como de costume.

Fui então atrás de quem se interessasse em negociar com a moeda brasileira.

A segunda dificuldade foi fazer as conversões, com a ajuda dos corretores. Primeiro, de real para dólar. Depois, de dólar para bitcoin: tudo meio “aproximado”, a partir de consultas rápidas em sites. Pelos meus cálculos, os R$ 50 valeriam cerca de 40 millibitcoins.

Após meia hora, apenas um comprador se apresentou, aparentemente, atraído mais pelo inusitado da transação do que pelos R$ 50 em si.

“Acabei de negociar bitcoins também com um brasileiro de Recife, mas em dólares”, disse o consultor de investimentos Mark Anthony, que me ofereceu 32 millibitcoins pelos R$ 50. Para justificar a cotação desfavorável, argumentou que perderia dinheiro para trocar os reais por dólares depois, numa casa de câmbio.

O fato de ter que digitar todas as letras e números na hora de fechar o negócio quase me custou todo o trabalho de conseguir o negócio.

Enquanto o aperto de mãos selava a troca e os dados da negociação eram registrados com um projetor de vídeo na parede, um email chegava na minha caixa de entrada. Era a confirmação da compra dos meus primeiros bitcoins.

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As infrações do prefeito

Por nyposts
25/02/14 20:25

Num vídeo gravado na semana passada por uma equipe da emissora CBS 2 em Nova York, dois SUVs pretos são flagrados passando direto por duas placas de “pare”, mudando de faixa sem sinalizar e andando acima da velocidade permitida em duas vias (veja abaixo).

Se só pelo risco a que expuseram pedestres e outros motoristas, as faltas já seriam graves, o fato de elas terem sido cometidas com o carro do prefeito e dois dias após o anúncio de um grande programa de diminuição da violência no trânsito na cidade, as tornou inadmissíveis.

O prefeito democrata Bill de Blasio, que, a princípio, não quis comentar as infrações cometidas por seu motorista (ele estava no banco da frente), saiu nesta segunda-feira em defesa da equipe do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD), responsável por seu transporte e segurança.

“Ninguém está acima da lei. Mas há uma diferença em relação à questão de seguranca de uma pessoa que é protegida pela NYPD”, disse Blasio, que disse não se meter no trabalho da equipe da polícia.

“Eu não digo ao NYPD como eles devem fazer o seu trabalho para me proteger. Eles são especialistas, e eu respeito isso”, afirmou, em coletiva de imprensa. “Então, se em um determinado momento, eles virem uma coisa que eu não vi, eles podem agir de uma maneira que não será compreendida por mim de forma imediata –mas eles são treinados para lidar com isso.”

 

Vídeo com as infrações do carro de Blasio

 

Dois dias antes, Blasio tinha feito o anúncio oficial de seu programa para zerar as mortes no trânsito de Nova York em dez anos. Desde o início do ano, 20 pedestres já morreram em acidentes.

Durante o anúncio, o prefeito se disse “seriamente comprometido” com o plano de 63 pontos, que inclui a intensificação de multas e do uso de câmeras de trânsito (leia mais sobre o projeto aqui).

De acordo com a CBS 2, que acompanhou o comboio do prefeito na última quinta-feira, qualquer motorista comum poderia ter tido a licensa suspensa com as infrações: não respeitar a placa de “pare” duas vezes, dirigir a 64 km/h (40mph) em um limite de 48 km/h (30 mph), e a 97 km/h (60 mph) numa via de 72 km/h (45 mph). Somadas, as faltas dariam 13 pontos na carteira –dois a mais do que o limite para a suspensão.

A polêmica sobre as violações no trânsito é a última de uma série que tem assombrado os dois primeiros meses de mandato de Blasio. Nas últimas semanas, ele foi duramente criticado por decidir manter as escolas abertas durante um dia de forte nevasca e por, aparentemente, ter usado sua influência para liberar um aliado político detido por –também— infrações de trânsito.

Antes disso, o democrata foi acusado de negligenciar o Upper East Side, bairro abastado de Manhattan, na limpeza das ruas após uma nevasca em janeiro (leia mais aqui).

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Os 1.300 de Utah

Por nyposts
23/02/14 15:18

Quando você começa a apurar uma matéria sobre casamento gay e a buscar as histórias dos casais envolvidos na luta por seu reconhecimento pelo Estado, geralmente encontra belos casos de perseverança, superação e, claro, de amor.

Alguns –mais especificamente 1.362— deles chamaram a minha atenção em particular. Moradores de Utah, eles se casaram, mas tiveram uma janela de apenas 17 dias de “legalidade”: entre a decisão de um juiz federal declarando inconstitucional a proibição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, em dezembro, e o recurso apresentado pelo governo estadual e sua recusa em reconhecê-los, em janeiro.

O Departamento de Justiça americano, que não pode intervir na decisão estadual, disse que reconheceria os casamentos realizados no que concerne à gestão federal. A decisão sobre seu status no Estado de Utah será julgado na Corte de Apelações local em abril.

Jeremy Eskelsen, 37, (uma simpatia em pessoa) me contou pelo telefone temer que a decisão vá parar na Suprema Corte, já que nenhum dos dois lados deve se dar por satisfeito, seja qual for a decisão sobre o recurso.

“Estou muito otimista, mas isso eventualmente vai acabar na Suprema Corte –e o que vai acontecer lá, eu não sei, porque ela está muito dividida”, disse.

Jeremy e Mike, 34, estão juntos há 12 anos. Se conheceram pela internet, namoraram por três anos e resolveram se “casar” mesmo sem ser legal em Utah. Tiveram uma cerimônia com os amigos a família, troca de alianças, votos –mas não papeis oficiais.

Quando souberam, três anos depois, que a Califórnia permitiria o casamento para moradores de fora do Estado, Jeremy pegou um avião para encontrar Mike, que estava, por acaso, a trabalho em Los Angeles. Os dois se casaram de novo, de bermudas e camisetas, numa pequena capela da cidade.

Mas sua união seguiria não sendo reconhecida em seu próprio Estado. Foi quando, em dezembro passado, ao deixar uma festa de fim de ano de sua empresa, Jeremy viu a notícia de que um juiz havia autorizado o casamento em Utah.

“Eu achava que algum dia o casamento gay seria reconhecido no status federal, mas sempre achei que Utah seria o último Estado a aprová-lo!”, me contou.

“Eu corri para pegar o Mike, e perguntei: ‘Você quer se casar comigo aqui, no nosso Estado? Você casaria de novo comigo?’”. A resposta foi um terceiro sim, mas acompanhado de um: “A gente pode fazer isso na segunda?”.

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Jeremy (à esq.) e Mike se beijam após se casarem em Utah (Arquivo pessoal)

 

Jeremy, antecipando a recusa do governo nas semanas seguintes, insistiu: teriam que fazer naquele momento, não dava para saber quanto tempo iria durar a decisão.

“Entramos na fila no cartório e quando Connie, o nosso amigo que nos casou, perguntou se eu aceitava Mike como meu esposo, respondi: ‘Três vezes’”.

Naquele dia, centenas de outros casais também correram para dizer sim, sorrir e chorar.

“Havia centenas de pessoas nos corredores ou se espremendo nas calçadas, e enchendo o salão principal: ninguém sabia quanto tempo este momento iria durar. Não me lembro de ter presenciado antes tanta alegria e tanto amor em um espaço lotado e maravilhosamente caótico. E não apenas entre os próprios casais, mas compartilhados, em muitos casos, por seus filhos, pais ou irmãos”, lembrou o prefeito de Salt Lake City, Ralph Becker, em depoimento a um jornal local, “The Salt Lake Tribune”.

Marcy Taylor, 38, e Alicia Rizzi, 45, esperaram quatro dias após a decisão do juiz federal, mas a cerimônia não teve menos emoção por isso. Na véspera de Natal, elas chegaram ao cartório acompanhadas da família toda.

“Foi um dia doce e amargo. Não era como eu imaginei que iria me casar. Eu queria uma festa. Eu queria um casamento de Halloween, com fantasias, bolos pretos e open bar. Eu queria ter escrito votos de casamento que fariam meus pais chorar. Eu queria ser tratada de forma normal. Eu queria que tivesse sido algo mais do que uma correria”, disse Marcy.

“Mas quando nós nos encaramos frente a frente, eu olhando nos olhos da mulher que eu amo há nove anos, as exigências desapareceram e percebemos que, a partir dali, estaríamos protegidas legalmente. Eu chorei. Ela chorou.”

Marcy também diz temer o que vem por agora, em termos de decisão judicial. “A euforia durou 17 dias. O cartão do seguro de saúde na carteira dela, que diz que ela é solteira, vai permanecer, como uma mentira, até que o processo nos tribunais esteja completo”, diz.

Além de Jeremy e Mike e Marcy e Rizzi, outros casais resolveram compartilhar suas histórias no projeto “17 Days in Utah”, que tenta reunir parte dos 1.362 casais envolvidos nessa batalha jurídica.

Se você quiser também conhecer os casos de Kenneth e David, Jude e Dianna, Emily e Krista, Seth e Michael… clique aqui.

E leia aqui também a matéria, que foi publicada na Folha deste domingo sobre o avanço do casamento gay por meio dos tribunais nos EUA.

 

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As cores de Capa

Por nyposts
15/02/14 13:08

Da China, onde cobria a invasão japonesa ao país, em 1938, o fotógrafo Robert Capa fez um pedido por carta a um colega da Magnum, em Nova York:

“Por favor, me mande imediatamente 12 rolos de Kodachrome com todas as instruções; que filtros especiais são necessários, etc. –-resumindo, tudo o que eu preciso saber.”

Até aquele momento, Capa não havia se interessado em trabalhar com fotografia em cores. Sua produção ia bem em preto e branco,  e ele já tinha feito trabalhos que ganharam notoriedade, como a foto de um soldado caindo ao ser atingido por um tiro durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936.

Ele, no entanto, tinha uma ideia para a revista “Life” e queria tentar o Kodachrome, filme criado três anos antes e que depois se tornaria um dos preferidos de fotógrafos por gerações, justamente por conferir uma saturação nunca antes vista. Só quatro fotos coloridas “sobreviveram” à cobertura na China e seriam publicadas pela “Life” sem grande entusiasmo.

A fria reação da revista seria reproduzida por outras publicações sobre todo o trabalho colorido de Capa, constantemente preterido em relação aos seus registros em preto e branco. Com isso, poucas fotos em cores de Capa se tornaram realmente conhecidas. Até agora.

Com a exposição “Capa in Color”, o International Center of Photography, em Nova York –fundado pelo irmão mais novo de Capa, Cornell—traz ao público mais de cem imagens coloridas do fotógrafo, a maioria até hoje nunca exibida.


Na mostra, é possível ver também cartas entre Capa, seus agentes e as revistas, geralmente recusando os trabalhos em cores, questionando sua qualidade.

O próprio Capa confessa ao irmão, numa delas, as dificuldades em trabalhar com o novo material. “Metade das fotos está mal revelada – mas eu sou um bom fotógrafo! E eu tenho esperança de que eles publiquem”, disse, em 1941.

Apesar de reconhecer as limitações do processo –ser um filme com velocidade menor, ter um processo mais longo e complicado de revelação e enfrentar a falta de interesse das revistas–, Capa insistiria em levar consigo duas máquinas (uma com filme preto e branco e uma com o Kodachrome) em quase todas as suas coberturas a partir da Segunda Guerra.

Na exposição, contudo, é possível perceber a distinção feita por Capa entre os filmes. Ao contrário das imagens fortes de guerra feitas em PB, o filme colorido foi deixado por ele para o registro de cenas mais leves, do cotidiano.

Mesmo em meio à Segunda Guerra, a cor foi usada para fotografar temas laterais, como soldados lutando boxe num navio (veja na galeria).

Variações de séries que ficaram famosas em preto e branco, como as de Pablo Picasso com sua família na praia de Vallarius, na França, em 1948, também podem ser vistas na exposição.

A leveza da foto colorida de Picasso brincando com o filho Claude no mar, porém, não foi suficiente para sensibilizar os editores da “Illustrated”, que preferiram o ensaio em preto e branco –que, ok, traz a delicadíssima imagem do artista “escoltando” sua mulher, Françoise Gilot, com um enorme guarda-sol enquanto caminham na praia.

Outra “versão” colorida é a da imagem –eternizada em preto e branco— de espectadores que observam, com seus binóculos, uma corrida de cavalos na França.

Em Kodachrome, Capa fotografou Truman Capote, Ernest Hemingway com o filho, a atriz Ava Gardner. Privilegiou o vermelho de batons (como na imagem de Gardner e no ensaio com a modelo francesa Capucine em Roma), de biquínis na praia, da Praça Vermelha em Moscou.

Levou o filme colorido até a Indochina (hoje Vietnã), sua última cobertura. Há imagens em cores de soldados avançando pelo território de maio de 1954, poucos dias antes de sua morte, por uma mina terrestre, no Delta do Rio Vermelho.

Vale a pena se programar, se você estiver pensando em passar por Nova York até 4 de maio. A entrada custa US$ 14, e o International Center of Photography fica fechado às segundas apenas.

>> Leia mais sobre a “ressurreição” da cor na fotografia dos mestres do preto e branco em reportagem publicada aqui.

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