Nova York, 11 de setembro
11/09/14 22:21Quando dois prédios desabaram no Harlem em março, após uma explosão causada por um vazamento de gás, a primeira coisa que ouvi das testemunhas do acidente é que eles achavam, na hora, que se tratava outro ataque terrorista a Nova York.
“Saí correndo, porque estava com medo do que viria depois. Nessa hora, a gente só lembra do 11 de Setembro”, me disse o morador Carlos Lopez, 48, na época.
Não é exagero. Treze anos depois, ainda é possível perceber o trauma do nova-iorquino. Muitos têm certeza que a cidade será alvo outra vez de qualquer extremista que seja.
Só que no aniversário dos atentados, o temor ressurge com ainda com mais intensidade. Afinal, não seria previsível que terroristas escolhessem a data para tornar tudo ainda mais trágico? Ainda mais diante do crescimento de uma nova ameaça, o chamado Estado Islâmico, no Iraque e na Síria, que já teria recrutado mais de cem americanos, segundo o próprio governo.
A rotina, no entanto, não pode parar só porque o calendário bateu no 11. A princípio, a quinta teria de começar normal para a maioria. Talvez fosse possível ver hoje mais policiais nas ruas, especialmente nas proximidades do World Trade Center.
Peguei o metrô rumo ao Memorial do 11 de Setembro pouco antes das 8h da manhã. A cerimônia em homenagem às vítimas começaria às 8h30. O primeiro minuto de silêncio estava marcado para as 8h45, hora em que o primeiro avião atingiu a Torre Norte (WTC 1).
Lembrei das várias declarações da época de que só não havia morrido mais gente porque ainda era cedo. Sim, era muito cedo –como hoje—, e o observatório ainda não estava aberto. Às 8h45, Nova York já tem muita gente nas ruas, mas hoje realmente a afirmação fez sentido pra mim: a proporção da tragédia certamente seria maior se tivesse ocorrido uma ou duas horas depois.
No caminho, me questionei em, pelo menos, dois momentos: “deveria mesmo ter pego o metrô hoje?”. Não era só comigo. O barulho de uma mochila pesada caindo no chão assustou umas três pessoas que andavam na minha frente, na estação.
Greg Lopez, que foi voluntário nos resgates e não consegue esquecer os corpos que encontrou nos dias que se seguiram aos atentados, diz ter certeza: haverá um novo ataque terrorista no país.
“Não tenho dúvida. Os EUA incomodam muita gente, porque se intrometeram demais na vida de outros povos”, afirmou, em frente ao memorial.
Familiares da vítimas com que falei também acreditam que os americanos ainda enfrentarão ataques terroristas em seu território. (veja matéria aqui)
Para Lopez, não há o que os EUA possam fazer para evitar. Já Cory Palmer, que perdeu um primo nos ataques, acha que Obama está no caminho certo.
Aparentemente, o estado de alerta foi se dissipando na cidade com o passar das horas e o fim de mais um 11 de Setembro. Ao anoitecer, se acenderam as luzes que projetam no céu o espaço antes ocupado pelas duas torres.
O nova-iorquino, contudo, está fadado a carregar, em seu dia a dia, a tensão do imponderável (ao menos pra o cidadão comum), reforçada pelos avisos sonoros do metrô de “If you see something, say something (se vir algo, diga algo)”.