Após morte em revista, polícia de NY tem menor aprovação em 14 anos
28/08/14 11:51Nas últimas semanas, Ferguson, no Missouri, onde o jovem negro Michael Brown, 18, foi morto por um policial branco, se tornou o centro do debate não só sobre ódio racial, mas, sobretudo, sobre a violência policial nos EUA.
Simultaneamente, em Nova York, um outro caso também foi ganhando repercussão na mídia e colocou a atuação da polícia da cidade na berlinda. Em 17 de julho, o Eric Garner, 43, negro, morreu em Staten Island depois de ser revistado e paralisado por dois policiais. Ele estaria vendendo cigarros contrabandeados.
Garner tinha asma e problemas de hipertensão decorrentes da obesidade. Um laudo da própria prefeitura de Nova York apontou homicídio, já que Garner teria morrido após ter seu pescoço e peito comprimidos pelo policial com um “mata leão” (um estrangulamento com o braço por trás).
Após a morte de Garner, a polícia de Nova York registra seu pior índice de aprovação em 14 anos, 50%, segundo uma pesquisa Quinnipiac divulgada nesta quarta-feira (28) –os policiais amargam 42% de reprovação.
A grande maioria dos entrevistados –78%– acredita que a brutalidade dos policiais é um problema “muito sério” ou “sério”, e 63% acham que eles agem com mais dureza contra negros do que contra brancos (30% consideram que o tratamento é igual).
No caso específico de Garner, 68% consideram que não há explicação plausível para a atuação do policial, e 64% acreditam que o oficial que matou Garner deve ser acusado pelo homicídio (apenas 19% são contrários à ideia).
Cerca de 60% da população, no entanto, ainda defende a abordagem policial diante de delitos menores, como beber em público, fazer barulho à noite ou vender pequenas quantidades de maconha.
Na gestão de Michael Bloomberg (2002-2013), a atuação policial com a prática do “stop and frisk” (pare e reviste) foi intensificada. Apesar das inúmeras críticas ao modelo, a cidade teve uma redução significativa da criminalidade –caiu quase um terço (32%)– e os homicídios foram reduzidos praticamente pela metade (49%) nos 12 anos de mandato do ex-prefeito.
O atual prefeito, Bill de Blasio, foi um dos principais opositores do rigor adotado por seu antecessor nas revistas policiais. Para grupos de defesa dos direitos humanos, no entanto, o democrata fez pouco para combater os abusos da polícia nos “stop and frisk” e, principalmente, os critérios pouco subjetivos das abordagens.
Até agora, 55,4% das pessoas revistadas em 2014 foram negras –só 0,4 pontos percentuais a menos que em 2013 e 0,6 pontos percentuais acima de 2012. Os latinos representaram 30,2% dos revistados, e os brancos, 14,4%.
Ainda é cedo para saber o impacto da morte de Garner para Blasio. Segundo o levantamento do Quinnipiac, 35% aprovam a sua resposta ao caso, contra 34% que desaprovam.
Em setembro, uma audiência na Câmara local vai debater mudanças sobre o treinamento de policiais na cidade. O chefe da polícia, William Bratton, já prometeu “mudanças significativas”.