Nova York e um problema silencioso
30/05/14 13:36Difícil estar em Nova York e não se sentir um pouco Elena, a atriz que chegou, aos 20 anos, sozinha e cheia de sonhos nesta cidade tão fascinante quanto opressora.
Ao assistir o filme homônimo, feito por sua irmã, Petra Costa, você encontra tudo lá: as luzes, os carros, as sirenes, o mar de gente que te atropela. A solidão em meio à multidão. Nada tão diferente de outras grandes cidades pelo mundo, mas nada tão Nova York.
A primeira válvula de escape de Elena foi uma espécie de diário gravado: mensagens de voz para enviar à família no Brasil. Nelas, ficaram registrados momentos de certeza e outros de total confusão, lampejos de euforia com a cidade e desabafos de dias bem ruins.
Elena, tão jovem, não aguentaria, meses depois, a montanha-russa de sentimentos e a cobrança extrema, sua e dos outros. E o desfecho dessa história, infelizmente, está longe de ser uma exceção.
Os últimos dados sobre suicídio na cidade mostram que os casos superam os de homicídio. A média de 475 mortes desse tipo por ano é maior que os cerca de 400 assassinatos registrados em 2012 em Nova York. Em todo o país, 40.000 suicídios foram registrados em 2013.
Proporcionalmente à população, o índice de NY não é tão superior ao de outras metrópoles, como São Paulo: cerca de 6 por cada 100.000 habitantes, contra 5,4 (segundo dados de pesquisa da USP publicada em 2012).
Isso, contudo, não deixa os números daqui menos assustadores. O problema existe, é silencioso e agravado pela solidão de quem vem tentar a vida na cidade –seja na Broadway, em Wall Street ou no mercado da esquina.
Seria leviano –e, obviamente, incorreto– afirmar que Nova York determina tal destino, mas ela certamente se encarrega de garantir que o caminho do “sucesso” tenha um número suficiente de obstáculos.
Para Petra, Nova York teve sim o seu peso no processo doloroso pelo qual passou a irmã. Tanto que, nos painéis de debate que seguirão a estreia de “Elena” (leia a matéria aqui), nesta sexta-feira (30), na cidade, promoverá um sobre “Solidão na Nova York delirante”, no dia 4, no IFC, com a participação de Affonso Gonçalves, da equipe de “Indomável Sonhadora”.
“É uma cidade que ou você consegue, ou a sua autoestima se destrói”, disse. “Você se sente, como artista, facilmente descartável aqui, porque tudo já tem muito.”
O ator e cineasta Tim Robbins, de “Sobre Meninos e Lobos”, hoje produtor-executivo do “Elena” nos EUA, também não superou a cidade tão facilmente no começo.
“Eu lembro de me sentir ‘menos que zero’ em Nova York”, diz, no vídeo de divulgação do filme. “Quando você é um artista e abre sua alma e o seu coração, se desnuda perante as pessoas, [NY] é um lugar muito sensível para se estar.”