A discrição como vizinha
07/02/14 11:00“Você sabia? O Woody Allen mora aqui nessa rua, algumas casas para lá”, disse o senhor da mesa ao lado para o amigo, que acenou com a cabeça que não.
Depois da introdução, não consegui não prestar atenção ao resto da conversa. Era para isso que eu estava naquele café, na esquina da rua do cineasta: queria saber o que pensavam seus vizinhos, seus conhecidos sobre o escândalo que retomara os jornais no fim de semana.
Afinal de contas, se nas redes sociais, todo mundo tem uma opinião para dar sobre o suposto abuso cometido por Allen contra a filha adotiva nos anos 90, provavelmente quem já teve algum contato com ele também teria.
A vizinhança de Woody Allen, no bairro de Upper East Side, em Manhattan, no entanto, tem preferido a discrição nos últimos dias.
Da pequena barbearia com a foto autografada de Allen na vitrine ao reservado restaurante italiano em que ele sempre vai, ninguém quer comentar as denúncias feitas por Dylan Farrow, a filha. Nem em sua defesa arriscam um “eu não acredito que ele faria isso”, como muitos foram à TV fazer.
“A vizinhança aqui é muito tranquila. Ele é um vizinho muito tranquilo. Prefiro não falar sobre isso”, disse uma mulher que trabalha num prédio de dois andares a três casas da de Allen.
Não raro o diretor, que mora há mais de sete anos no local, é visto caminhando por ali. Nos últimos dias, isso se tornou mais raro, confessa o garçom de um restaurante da rua ao lado.
Mas parece que todos entenderam que o assunto requer privacidade. Em frente à casa de Allen, não havia repórteres de plantão ou qualquer cartaz de protesto –pela repercussão que o tema ganhou, acharia até normal se alguém tivesse resolvido se manifestar diante da sua porta.
Na cerca de meia hora em que passei no café, até vi pelo menos quatro curiosos sacarem seus celulares para tirar foto da casa.
(Se antes a residência do cineasta que fez de Nova York a protagonista de seus filmes já era uma atração turística, com o escândalo, fotografá-la parece ter se tornado ainda mais pitoresco.)
Mas o “assédio” para por aí. Na mesa ao lado, no café, a discrição também fez com que a conversa dos senhores sobre Allen não evoluísse para a questão “Dylan”.
A proximidade entre as mesas, contudo, me permitiu perguntar a opinião de um deles sobre o caso.
“A minha filha estudou com a filha dele, no mesmo colégio, me parece um cara bom”, disse. “Em todo o caso, se for verdade, vai ser horrível. Se não for verdade, também vai ser. Não tem como as pessoas não saírem destruídas dessa história.”
É, parece mesmo que não.