Quanto vale essa memória?
29/01/14 11:00Será praticamente o mesmo preço cobrado pela entrada em museus como o Moma ou o Guggenheim. Mesmo assim, o valor de US$ 24 (cerca de R$ 60) anunciado para o ingresso do futuro Museu Nacional do 11 de Setembro, que abrirá as portas em maio, causou alvoroço em Nova York.
Primeiro, por ser, evidentemente, um valor alto, considerando que não só os familiares das vítimas –que não terão a entrada cobrada–, mas todos os americanos se sentem parte da história que estará contada lá dentro.
Depois, por esse preço ser resultado de uma recusa do governo federal em bancar parte dos custos operacionais do museu. Para muitos –inclusive o prefeito de NY, Bill de Blasio—, não é aceitável que o governo não invista em um lugar destinado a resgatar a memória da maior tragédia da história do país e de suas 2.977 vítimas.
“Esse é um lugar nacional importante. É algo que as pessoas vêm de todo o país, de todo o mundo, para ver, e nós precisamos que o governo federal se junte a nós”, disse Blasio, na semana passada.
O museu foi construído no que era o subsolo das Torres Gêmeas, justamente por ser um lugar em que uma parte dos prédios se manteve. Será possível, por exemplo, ver uma das escadas que foi usada por milhares de sobreviventes para escapar.
Também estarão dispostos por lá grandes estruturas de metal que faziam parte do prédio –agora, contorcidas—, um carro dos bombeiros usado no resgate (veja galeria abaixo), além de objetos pessoais das vítimas encontrados nos escombros ou doados por familiares. Serão 10.000 metros quadrados de lembranças.
“Nunca foi a intenção que isso se tornasse uma atração turística lucrativa, com orçamento proibitivo e uma taxa de entrada”, condenou, em nota, a vice-presidente do grupo de Pais e Familiares das Vítimas e dos Bombeiros do 11 de Setembro, Sally Regenhard. “Só os ricos poderão visitar”, completa.
Os responsáveis pelo museu dizem que o valor do ingresso vai servir para ajudar nos gastos operacionais, que, em 2014, serão de US$ 63 milhões (R$ 152 milhões).
O memorial –aquele com as duas grandes “piscinas” em cuja borda podem ser lidos os nomes das vítimas, que fica acima do museu e já está aberto ao público desde 2011— não cobra entrada, mas são pedidas doações.
Aliás, a reação contrariada dos funcionários a qualquer pergunta sobre valores para entrar no local já mostra que a doação não é tão voluntária assim: há quase uma obrigação moral do visitante em contribuir com o espaço. A sugestão inicial é de US$ 10 (cerca de R$ 24).
A construção dos dois espaços custou US$ 700 milhões (R$ 1,7 bi), dos quais mais de US$ 450 milhões (R$ 1,1 bi) foram pagos com doações privadas de grande corporações. Para os idealizadores, é um projeto do tamanho da dor americana. Para muitos familiares de vítimas, é uma ostentação desnecessária.
E pra você: quanto vale essa memória?