Praga de mãe
18/01/14 10:00Talvez já tenha acontecido com você quando mais jovem: na frente de seu grupo de amigos, sua mãe (ou pai) resolve desautorizá-lo por um motivo qualquer. Você fica sem reação, se enrubesce e tem vontade de sair correndo e nunca mais falar com qualquer pessoa que tenha presenciado aquela cena.
Agora imagine que você não é mais tão jovem –na verdade, já tem 60 anos—, que sua mãe resolveu fazer isso não na frente de cinco ou dez amigos, mas em uma entrevista de TV, e que o tema em questão nada mais é do que a disputa pela presidência dos Estados Unidos.
Pronto. Você deve ter chegado bem perto do que deve estar sentindo agora Jeb Bush, filho e irmão de dois ex-presidentes, que, aparentemente, pretende concorrer à Casa Branca– ou ao menos o fazia antes do balde de água fria atirado pela mãe, Barbara, na última quinta-feira.
Perguntada se ela queria ver mais um filho no comando do país, durante entrevista ao canal C-SPAN, Barbara, 88, foi direta: “Eu espero que ele não concorra”.
“Esse é um grande país e se não pudermos encontrar mais do que duas ou três famílias para concorrer para o posto mais alto… é uma bobagem. Há bons governadores e boas pessoas que podem concorrer”, disse a ex-primeira-dama, em referência nominal à sua própria família, aos Kennedy e aos Clinton.
E ela seguiu com sua argumentação por mais de um minuto: “ele vai herdar todos os meus inimigos e os do irmão”, “há outras famílias”, “me recuso a aceitar que esse grande país não tenha gerado outras pessoas maravilhosas”. Em abril, ela já havia afirmado que a Casa Branca já teve “muitos Bush”.
A primeira reação de Jeb, que, segundo assessores mais próximos, está “bastante inclinado” a concorrer à Casa Branca em 2016, foi não perder a piada.
Em sua conta no Twitter, perguntou: “Que dia cai o Dia das Mães esse ano?”.
Em novembro, ele chegou a falar que estava evitando conversar sobre política com sua família.
Jeb foi governador da Flórida e é considerado o Bush mais popular e o mais moderado. Fluente em espanhol e casado com uma mexicana, ele tem propostas polêmicas para a imigração – apresentadas em seu livro, “Immigration Wars”–, como dar permissão para que Estados não prestem atendimento médico emergencial a imigrantes ilegais.
Em pesquisa feita pela CNN em dezembro, ele aparecia com 37% das intenções de voto numa eventual disputa com Hillary, com 50%.
Ainda há muita coisa para acontecer até 2016, e o cenário pode não ser tão desfavorável a ele assim. Mas se a senhora Bush continuar aparecendo por aí pedindo que o filho não concorra –ou até que não votem nele–, pode ser que outras mães se identifiquem com sua causa e a apoiem.
Me parece que já é um bom momento para Jeb reconsiderar sua posição e convocar, o quanto antes, uma reunião de família para discutir o assunto.