Bullying na Casa Branca?
15/01/14 15:48Há uma semana, os Estados Unidos acompanham a “novela” Chris Christie, iniciada com a divulgação de e-mails que mostram membros de sua equipe retaliando um desafeto político do governador de Nova Jersey com o bloqueio de uma ponte.
No dia seguinte à revelação, Christie, a principal promessa do partido republicano para a disputa à Casa Branca em 2016, repetiu algumas vezes que não tinha ordenado o “bullying” contra o prefeito de Fort Lee, o democrata Mark Sokolich, que não quis apoiá-lo na sua reeleição.
Só que, aparentemente, Christie tem um histórico de retaliações, como mostra aqui, a colunista Patrícia Campos Mello.
Diante dos fatos, a imprensa americana começou a perguntar: “como seria um presidente ‘bully’?”
Em artigo no NYT, a colunista Gail Collins projetou: “E se um secretario de Comércio, num impulso diante de uma recusa chinesa de apoiar frutos do mar americanos, mandasse aviões cargueiro para derrubar toneladas de sardinhas numa autoestrada de Pequim? O presidente Christie poderia simplesmente se desculpar e dizer que não teve nada a ver com o incidente”.
Comparação absurda, mas que evidencia, pelo exagero, o perfil “vingativo” do republicano com –por enquanto— mais chances de chegar à Casa Branca.
O fato, caro leitor, é que ele não é o único presidenciável a manter uma lista de inimigos e “ex-amigos” pronta a ser sacada em momentos decisivos.
A ex-secretária de Estado, ex-primeira-dama e principal nome democrata para 2016, Hillary Clinton, também tem a sua, como mostra trecho divulgado do livro “HRC: State Secrets and the Rebirth of Hillary Clinton” (ainda sem nome em português), dos jornalistas Amie Parnes e Jonathan Allen, que será lançado em fevereiro nos EUA.
Segundo o livro, durante a disputa com Barack Obama, em 2008, pela candidatura democrata, seus assessores alimentavam uma lista com nomes de políticos e “notas” de 1 a 7 –num ranking de apoio a Hillary.
Os “sete” eram os menos “colaborativos” por assim dizer e incluíam nomes democratas como o seu sucessor no Departamento de Estado, John Kerry (então senador), e os senadores Jay Rockefeller (Virgínia Ocidental), Bob Casey (Pensilvânia) e Patrick Leahy (Vermont).
“Queríamos ter um registro de quem nos apoiou e de quem não”, disse um membro da campanha de Hillary aos autores. “E, entre os que nos apoiaram, queríamos saber quem foi além e quem simplesmente estava lá. Entre os que não nos apoiaram, queríamos saber se foi porque eram de Illinois ou membros [do cáucus negro no Congresso]. E, é claro, quem o apoiou mas deveria ter ficado ao lado de Hillary… aqueles que a queimaram.”
Um exemplo de retaliação dado no livro é anterior ainda à disputa de 2008 e foi contra a senadora democrata por Montana Claire McCaskill, que deu declarações “engraçadinhas” sobre Bill Clinton em 2006 num programa de TV, dizendo que, apesar de ser um bom líder, não deixaria sua filha perto dele.
Nome anotado. Apesar do pedido de desculpas de Claire, Hillary retirou uma doação já programada para a senadora.
O livro sugere que a lista ainda exista. De qualquer forma, mesmo que os bloquinhos tenham sido destruídos, os nomes certamente estão guardados na memória de Hillary e de seus assessores –prontos para serem usados em 2016 (e nos quatro anos seguintes, se os democratas seguirem no comando).