Comprar é fácil, difícil é fumar
12/01/14 13:38Nos três dias que passei em Denver, no Colorado, apurando as matérias sobre a legalização da venda de maconha para uso recreativo, não vi uma pessoa sequer fumando.
E não foi por causa do frio: havia gente nas ruas, nos bares, nos restaurantes. Mas não havia “marola”, não tinha um baseado na mão de ninguém.
A contradição se dá porque a venda, sim, foi liberada, mas o consumo só pode ser feito em casa ou em locais privados, longe da vista do público. (Leia mais aqui)
No caso de Denver, foi aprovada uma regra específica que autoriza o morador a fumar também na varanda ou no quintal de casa.
Ok, mas e quem não tem casa –ou amigo com casa— por lá? Para quem vem de fora, como eu, as opções são limitadíssimas.
Ou você fuma discretamente na rua –o que fica um pouco complicado, por conta do cheiro característico da cannabis– ou arrisca acender o cigarro no quarto de hotel. Nesta última opção, o detector de fumaça dos quartos pode e deverá ser um problema.
Há ainda, claro, as festas e shows (foto abaixo e mais informações aqui) em que, inevitavelmente, as pessoas vão fumar. Neste caso, a polícia tem feito vista grossa, por enquanto. Mas nada impede que, em breve, sejam feitas “batidas” nos locais com maior concentração de gente.
O fato é que, na primeira semana, estava todo mundo –moradores, empresários, turistas—ainda aprendendo a lidar com a nova situação.
Procurando, soube que havia alguns hotéis mais “tolerantes”. Fui a dois deles. Nenhum admitiu oficialmente que permitia o uso de maconha em seus quartos ou dependências. Um deles, o Warwick, de 4 estrelas, chegou a emitir uma nota em seu site respondendo a esse tipo de dúvida (que, aparentemente, não era só minha).
“A legislação de Denver proíbe o uso de maconha nas varandas e espaços públicos do hotel. Assim sendo, fumar maconha e consumir produtos feitos com maconha é proibido em qualquer local do hotel, inclusive nos quartos”, explica a nota.
No hotel em que me hospedei, nenhum dos funcionários soube me informar qual era a política da empresa para fumar no quarto. No dia seguinte, presenciei uma reunião da equipe do hotel com seu gerente, na qual ele orientava, a partir de então, os empregados a proibirem o uso de maconha nos quartos pelos hóspedes. Recado dado.
Sem poder sair do Estado com a maconha comprada para a reportagem (leia mais e veja o vídeo aqui) e nem querendo arriscar ter que pagar multa de US$ 100 ou ficar até 15 dias detida (penas previstas para quem fumar em público), deixei as 2 gramas da “Blue Dream”, que não davam muito mais que um cigarro, por lá mesmo.
A expectativa de quem trabalha no setor é de que, nos próximos meses, o governo do Colorado perceba e repare a incoerência entre as regras de venda e de consumo. Caso contrário, todo o empresariado ligado ao turismo perderá em breve a euforia que ronda o setor desde 1o de janeiro.