O "Open House" do prefeito
07/01/14 08:30Confesso que quando anunciaram o “Open House” popular da nova casa do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, no último domingo, imaginei algo um pouco diferente.
O democrata prometera abrir a tradicional Gracie Mansion (leia sobre ela aqui) para todos os nova-iorquinos, e já pensei que encontraria uma festa “à la 4 de julho”, com hot dogs e pedaços de frango frito circulando entre os milhares que conseguiram seu ingresso por meio de sorteio.
Esperava ver também autoridades, aproveitando o momento para tirar uma casquinha da popularidade de Blasio.
Nada disso. Sob uma fina garoa que tornava o frio ainda menos suportável, os convidados enfrentaram uma fila de mais de duas horas do lado de fora.
Aos poucos, entravam na casa após uma revista –e, pelos seus aposentos seculares, seguiam em fila, num tour de cerca de 20 minutos.
Já no fim, estaria a recompensa pela espera: o novo prefeito, com sorriso largo e simpatia inabalável após quase cinco horas em pé, abraçava um a um, perguntava como anda a vida, ouvia histórias (em alguns casos, encaminhava a pessoa para um de seus assessores, a fim de anotar algum pedido em especial). E tirava fotos –que seriam enviadas depois por sua equipe, por email, para cada um dos presentes.
Pronto: não vi um só convidado que tenha saído insatisfeito.
A dona-de-casa Roslin Spigner, 51, achou a casa “linda” e o prefeito, “muito atencioso e gentil”.
O veterano de guerra Francis Leo Hoghen, que completou 70 anos no domingo, também saiu admirado. “Achei ele um cara muito tranquilo. Me surpreendeu o fato de ele receber um por um. Foi mais do que eu esperava”, disse à Folha.
Até mesmo o pequeno Atos Asare-Appiah, 5, (foto acima), que resistiu ao apelo de Blasio por um sorriso para a foto e resumiu sua impaciência no momento com uma careta, admitiu, ao final, ter gostado da experiência.
O carisma de Blasio contagiou os presentes, e ninguém ligou mais para o frio ou a falta de comida. Talvez na gestão anterior, do bilionário Michael Bloomberg, tivessem servido os tais frangos fritos –ou algo mais elaborado. Mas não sei se os convidados teriam saído tão satisfeitos.
Me deu a impressão de estar diante de uma versão nova-iorquina de Obama –que, não importa o quão ruim seja o cenário, sempre arranca um sorriso da plateia.
Os jornais por aqui já falam que o grande desafio de Blasio será transformar essa “paixão” em boas decisões políticas.
Mais uma semelhança então com o presidente. Obama pena, no segundo mandato, para manter a aprovação acima dos 40%.
O não tão carismático Bloomberg, cujos avanços na administração são reconhecidos inclusive por democratas, deixou o posto com 53% de apoio.
Blasio assume com 73% da população se declarando otimista em relação ao seu mandato. Será que consegue manter?